Há dias consegui o contacto de José Carlos Simões, um ex-militar que fui render no CCP do ComZML, na cidade do Luso (hoje Luena), no Leste de Angola, em Março de 1971, e hoje li-lhe um texto que escrevi em 21 de Março de 2004 e que reza assim:
COCA-COLA COMO BRONZEADOR
Os primeiros dias no Luso foram, como se compreenderá, ricos em experiências. E os primeiros tempos dos “maçaricos” eram os de despedida dos “velhos” que se preparavam par regressar a Portugal.
Quando em Março de 1970 chegámos ao Centro Cripto do Comando da Zona Militar Leste, o Simões e o Farelaira começaram a fazer contas à vida e a arrumar as suas coisas para rumarem até Viseu e foram eles os nossos grandes cicerones quer nas questões relacionadas com as tarefas militares, quer no dia a dia da cidade.
Estávamos de serviço um dia e folgávamos dois dias seguidos e assim sucessivamente. Para o Simões, mais preocupado com as questões da imagem, não se justificava muito regressar a Portugal, ao fim de mais de dois anos, e aparecer à família e aos amigos com a pele muito branca como se tivesse estado no Pólo Norte. E havia que aproveitar os últimos dias para passar as manhãs no rio para apanhar um pouco de cor.
Como não havia bronzeadores, o Simões pensava resolver a situação com Coca-Cola, pois estava convencido de que o refrigerante, aplicado na pela e com a acção do Sol teria particularidades pigmentárias.
E lá íamos de toalha debaixo do braço e garrafa de Coca-Cola na mão a caminho do rio Luela atravessando os quimbos e cumprimentando os velhos nativos com o tradicional “môio” e recebendo delicadamente como resposta “bundia”.
Na margem do rio, nas poucas zonas de areia que tinha, ou na erva rasteira, estendíamos a toalha e deliciávamo-nos com o Sol, já que a pouca profundidade das águas não dava para grandes banhos.
Chegava a altura de o Simões me pedir para lhe espalhar Coca-Cola nas costas e aí entrava a malandrice do “maçarico” fazendo a partida ao “velhinho” e em vez de fazer o que ele pedira, molhava a mão no rio, deixando-o convencido de que lhe estava a aplicar o precioso líquido americano nas costas.
Enquanto isto, ía bebendo pela garrafa valendo-me que os outros camaradas se iam aguentando à bronca sem me denunciar.
Ainda hoje o Simões, de quem nunca mais tive notícias, deve estar convicto de que chegou a Portugal bronzeado graças a um produto que estava proibido no nosso “puto”, por decisão de Salazar.
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